Fevereiro 2016 sugere-nos...
João Afonso de Carvalho, aluno do 5ºano, partilha connosco a sua sugestão literária:
Humilhados e Ofendidos - Fyodor Dostoyevsky
A última vez que falei acerca deste livro foi num verão em que terminei a leitura às 5 da madrugada e senti uma estranha necessidade de falar sobre o assunto. Fui ao goodreads fazer uma revisão um pouco frenética. É com base nessa última experiência sincera que espero conseguir alguma honestidade com esta recomendação. Como já li por diversas partes, opiniões alheias, não é tanto uma experiência filosófica como estamos habituados da parte de outras obras deste grande autor… Mas é definitivamente uma experiência muito humana, o realismo é enervante e deixou-me de facto irritado e ansioso e não apenas por frustração pessoal ou por ter gostado mais desta ou daquela personagem.
Simplesmente é difícil apercebermo-nos da forma como diferentes seres humanos reagem e lidam com o sofrimento (Isto não é coping, isto é a realidade). Tão estranho, pelo menos assim o é para mim. Faz-nos compreender o que significa para os sofredores amar de novo, o que é ter medo de alguma vez sentir felicidade. Observamos o que é a dignidade da pobreza, para mim esta expressão podia ser o título, o desprezo pelo mundo, bloquear todo e qualquer ideia de alegria, são reações que não compreendemos. Humilhados e ofendidos na miséria. É realmente muito difícil de colocar na simplicidade das palavras. A compreensão do que tenho a pretensão de fazer entender só pode mesmo ser obtida com a leitura da obra. Alguns negativos podem ser as supostas expectativas que se criam acerca do narrador (pode ser um spoiler: em todo o raio da história o narrador é colocado num friendzone, no qual insiste!). No final a história acaba por ser uma reflexão sobre a dor e o sofrimento e demostra (desculpem o cliché) que amor baseado na empatia – a nossa capacidade de ter como nossos os sentimentos dos outros, pode por vezes ir além de tudo! Espero também que as minhas palavras não pintem um melodramático e leviano quadro de sentimentalismo histérico. Se se conhecer um pouco Dostoyevsky, tal hipóstese simplesmente não se põe em questão, a não ser, claro, com o propósito de caracterizar/criticar a alta sociedade russa.
A última vez que falei acerca deste livro foi num verão em que terminei a leitura às 5 da madrugada e senti uma estranha necessidade de falar sobre o assunto. Fui ao goodreads fazer uma revisão um pouco frenética. É com base nessa última experiência sincera que espero conseguir alguma honestidade com esta recomendação. Como já li por diversas partes, opiniões alheias, não é tanto uma experiência filosófica como estamos habituados da parte de outras obras deste grande autor… Mas é definitivamente uma experiência muito humana, o realismo é enervante e deixou-me de facto irritado e ansioso e não apenas por frustração pessoal ou por ter gostado mais desta ou daquela personagem.
Simplesmente é difícil apercebermo-nos da forma como diferentes seres humanos reagem e lidam com o sofrimento (Isto não é coping, isto é a realidade). Tão estranho, pelo menos assim o é para mim. Faz-nos compreender o que significa para os sofredores amar de novo, o que é ter medo de alguma vez sentir felicidade. Observamos o que é a dignidade da pobreza, para mim esta expressão podia ser o título, o desprezo pelo mundo, bloquear todo e qualquer ideia de alegria, são reações que não compreendemos. Humilhados e ofendidos na miséria. É realmente muito difícil de colocar na simplicidade das palavras. A compreensão do que tenho a pretensão de fazer entender só pode mesmo ser obtida com a leitura da obra. Alguns negativos podem ser as supostas expectativas que se criam acerca do narrador (pode ser um spoiler: em todo o raio da história o narrador é colocado num friendzone, no qual insiste!). No final a história acaba por ser uma reflexão sobre a dor e o sofrimento e demostra (desculpem o cliché) que amor baseado na empatia – a nossa capacidade de ter como nossos os sentimentos dos outros, pode por vezes ir além de tudo! Espero também que as minhas palavras não pintem um melodramático e leviano quadro de sentimentalismo histérico. Se se conhecer um pouco Dostoyevsky, tal hipóstese simplesmente não se põe em questão, a não ser, claro, com o propósito de caracterizar/criticar a alta sociedade russa.
Até lá, boas leituras!
João Afonso de Carvalho
Ano Novo, Perfume Novo. Sugestão de Janeiro 2016
O Francisco Branco Caetano, aluno do 5ºano, deixa-nos a sua opinião sobre O Perfume. Deixa-te inspirar!
O Perfume - Patrick Suskind
Trazido à memória pela sua adaptação cinematográfica em 2008, O Perfume é uma obra imersiva, sensorialmente estimulante e obscura.
O autor conta-nos a história de Jean Baptiste Grenouille, homem nascido sem odor próprio nem possibilidade de emanar cheiro, mas dotado de um nariz capaz de perceber e memorizar cada nota olfativa do ambiente que o rodeia. Anti-herói, de carácter que nunca nos suscita a mínima empatia, Jean-Baptiste lê-nos de olhos fechados: pelo nosso odor sabe o que fazemos e o que fizemos, de onde viemos e com quem estivemos. Através do seu nariz, vê por detrás de portas fechadas, até quarteirões de distância, na suja, fedorenta e socialmente opressora cidade de Paris do século XVIII. É lá que capta pela primeira vez um odor que tem de possuir. O de uma jovem virgem judia que o leva a cometer o primeiro de vários assassinos em nome do olfacto. Viajando por diversas regiões de França, descobrimos através deste seu sentido até onde é que a sua ambição o leva.
O Perfume é arrebatador. Suskind consegue obrigar-nos a entrar num mundo aberrante, prendendo-nos com descrições detalhadas, nunca exaustivas, de cada ambiente, de cada local, forçando-nos a sentir, no pleno sentido do termo. Penso que nunca esquecerei muitas das construções visuais que criei a partir das suas palavras, de tão vívidas, envolventes e muitas vezes perturbadoras, que se revelaram.
Trazido à memória pela sua adaptação cinematográfica em 2008, O Perfume é uma obra imersiva, sensorialmente estimulante e obscura.
O autor conta-nos a história de Jean Baptiste Grenouille, homem nascido sem odor próprio nem possibilidade de emanar cheiro, mas dotado de um nariz capaz de perceber e memorizar cada nota olfativa do ambiente que o rodeia. Anti-herói, de carácter que nunca nos suscita a mínima empatia, Jean-Baptiste lê-nos de olhos fechados: pelo nosso odor sabe o que fazemos e o que fizemos, de onde viemos e com quem estivemos. Através do seu nariz, vê por detrás de portas fechadas, até quarteirões de distância, na suja, fedorenta e socialmente opressora cidade de Paris do século XVIII. É lá que capta pela primeira vez um odor que tem de possuir. O de uma jovem virgem judia que o leva a cometer o primeiro de vários assassinos em nome do olfacto. Viajando por diversas regiões de França, descobrimos através deste seu sentido até onde é que a sua ambição o leva.
O Perfume é arrebatador. Suskind consegue obrigar-nos a entrar num mundo aberrante, prendendo-nos com descrições detalhadas, nunca exaustivas, de cada ambiente, de cada local, forçando-nos a sentir, no pleno sentido do termo. Penso que nunca esquecerei muitas das construções visuais que criei a partir das suas palavras, de tão vívidas, envolventes e muitas vezes perturbadoras, que se revelaram.
Até lá, boas leituras!
Francisco Branco Caetano
O Natal chega, chegam as sugestões de Dezembro 2015!
Aproveita este pausa lectiva para pôr as leituras em dias! Fica com as sugestões do João Madeira (aluno do 2ºano) para acompanhar o teu serão natalício...
A Lição de Anatomia - Philip Roth
O primeiro livro que considero merecer uma leitura é A Lição de Anatomia de Philip Roth.
Nesta obra Roth, um dos meus escritores americanos vivos favoritos e certamente um dos melhores, explora o conceito da dor idiopática, sem causa fisiológica, no escritor Nathan Zuckerman que, assoberbado por essa dor que ninguém consegue explicar, procura no seu passado a razão e projeta o seu futuro com vista a curar-se.
Neste livro, com o brilhantismo e confiança que lhe são característicos, Roth explora o conceito da condição humana na procura do prazer, como “ausência de dor”, ainda que o faça de uma forma divertidíssima, sendo que dou como exemplo o monólogo que o protagonista faz na página 100, em que ameaça a sua dor de suicidar-se, porque, acabando com o organismo (condição de existência da dor), então ela própria deixará de existir.
Muito bem escrito e pesquisado, só não se pode destacar mais o preciosismo e cuidado nas descrições anatómicas, fisiopatológicas, farmacológicas, etc… que o autor elabora, porque já são características habituais na sua escrita, que fazem com que seja um dos escritores mais premiados no panorama literário mundial.
Penso que qualquer pessoa achará este livro interessante e, qualquer aluno de medicina, muito mais.
O primeiro livro que considero merecer uma leitura é A Lição de Anatomia de Philip Roth.
Nesta obra Roth, um dos meus escritores americanos vivos favoritos e certamente um dos melhores, explora o conceito da dor idiopática, sem causa fisiológica, no escritor Nathan Zuckerman que, assoberbado por essa dor que ninguém consegue explicar, procura no seu passado a razão e projeta o seu futuro com vista a curar-se.
Neste livro, com o brilhantismo e confiança que lhe são característicos, Roth explora o conceito da condição humana na procura do prazer, como “ausência de dor”, ainda que o faça de uma forma divertidíssima, sendo que dou como exemplo o monólogo que o protagonista faz na página 100, em que ameaça a sua dor de suicidar-se, porque, acabando com o organismo (condição de existência da dor), então ela própria deixará de existir.
Muito bem escrito e pesquisado, só não se pode destacar mais o preciosismo e cuidado nas descrições anatómicas, fisiopatológicas, farmacológicas, etc… que o autor elabora, porque já são características habituais na sua escrita, que fazem com que seja um dos escritores mais premiados no panorama literário mundial.
Penso que qualquer pessoa achará este livro interessante e, qualquer aluno de medicina, muito mais.
O Jogo das Contas de Vidro - Herman Hesse
De um escritor que dispensa introdução, O Jogo das Contas de Vidro de Herman Hesse é (talvez) dos seus livros menos conhecidos, ainda que seja definitivamente a sua magnus opus e a consagração do autor, sendo a obra que lhe valeu o Prémio Nobel da Literatura em 1946 (no discurso atribuição do prémio, a Academia Sueca justificou da seguinte forma: “pela sua escrita inspiradora que (…) exemplifica o ideal humanitário e a qualidade superior do estilo [literário].”).
Este livro é uma “biografia” de Joseph Knecht, o mestre do Jogo das Contas de Vidro, peça central de Castália, num mundo alternativo em que a secularidade e a intelectualidade são fonte do saber supremo e funcionam quase como uma religião a que apenas alguns eleitos de capacidades superiores podem aceder.
O protagonista, atingindo o mais alto grau na hierarquia dessa sociedade intelectualmente superior, romperá com os cânones porque apercebe-se que o conhecimento pelo conhecimento não só é impossível como inútil. Assim, procurará no Século (o que equivale à sociedade) a fonte da epistemologia útil e prática.
Este livro é bastante denso e aborda temas muito complexos, desde a procura incessante do saber, à sua utilidade, ao sentido da vida e existência da alma. Com os laivos orientais que caracterizam a restante obra de Hesse, destacando o Sidharta, este não é o livro mais fácil de ler, ainda que haja uma fluidez notável da narrativa, sendo que as ações e decisões que o protagonista toma são sempre o reflexo da sua personalidade que nos é dada a conhecer nos primeiros capítulos.
É também de destacar as três narrativas finais, contos separados mas associados à história de Knecht, que nos permitem fazer uma reflexão da nossa condição limitada e finita e qual a nossa função na História do Cosmos.
O que é garantido é que é impossível ler esta obra e ficar indiferente e a minha única tristeza é não poder lê-la de novo como se fosse a primeira vez.
De um escritor que dispensa introdução, O Jogo das Contas de Vidro de Herman Hesse é (talvez) dos seus livros menos conhecidos, ainda que seja definitivamente a sua magnus opus e a consagração do autor, sendo a obra que lhe valeu o Prémio Nobel da Literatura em 1946 (no discurso atribuição do prémio, a Academia Sueca justificou da seguinte forma: “pela sua escrita inspiradora que (…) exemplifica o ideal humanitário e a qualidade superior do estilo [literário].”).
Este livro é uma “biografia” de Joseph Knecht, o mestre do Jogo das Contas de Vidro, peça central de Castália, num mundo alternativo em que a secularidade e a intelectualidade são fonte do saber supremo e funcionam quase como uma religião a que apenas alguns eleitos de capacidades superiores podem aceder.
O protagonista, atingindo o mais alto grau na hierarquia dessa sociedade intelectualmente superior, romperá com os cânones porque apercebe-se que o conhecimento pelo conhecimento não só é impossível como inútil. Assim, procurará no Século (o que equivale à sociedade) a fonte da epistemologia útil e prática.
Este livro é bastante denso e aborda temas muito complexos, desde a procura incessante do saber, à sua utilidade, ao sentido da vida e existência da alma. Com os laivos orientais que caracterizam a restante obra de Hesse, destacando o Sidharta, este não é o livro mais fácil de ler, ainda que haja uma fluidez notável da narrativa, sendo que as ações e decisões que o protagonista toma são sempre o reflexo da sua personalidade que nos é dada a conhecer nos primeiros capítulos.
É também de destacar as três narrativas finais, contos separados mas associados à história de Knecht, que nos permitem fazer uma reflexão da nossa condição limitada e finita e qual a nossa função na História do Cosmos.
O que é garantido é que é impossível ler esta obra e ficar indiferente e a minha única tristeza é não poder lê-la de novo como se fosse a primeira vez.
Os Interessantes - Meg Wolitzer
Para terminar, com algumas dúvidas, acabei por escolher Os Interessantes de Meg Wolitzer, que relata a história de seis amigos nova-iorquinos dos anos dourados de 60/70 (onde a paz duradoura, o avanço económico-tecnológico e a revolução cultural foram os motores duma geração que a tudo podia), e explora toda a narrativa das suas vidas que, entrecruzando-se, ainda assim diverge e provoca o desvanecimento dos laços da adolescência.
Muito ao estilo de Tom Wolfe, Wolitzer consegue uma análise interessante (não fosse o nome do livro) da condição humana, com especial atenção aos laços humanos que se estabelecem, mas também aos sentimentos que os podem corromper quando a desigualdade se manifesta (seja de talento, capacidades, dinheiro ou intelectualidade). O fatalismo acaba por ser tema dominante na obra, sendo que (porque apenas alguns dos amigos atingem as suas potencialidades) a inveja, egoísmo e ego serão motivo de separação de uma amizade que, existente, será muito artificial e totalmente diferente à pureza que esteve na sua génese.
De leitura acessível, ainda que a edição da Teorema tenha cerca de 600 páginas, é um livro que merece ser lido, pois é uma reflexão sobre toda uma geração que a tudo podia mas que, no essencial, falhou. E é nessa derrota que a autora tenta procurar se a razão é intrinsecamente humana ou se deriva de todas as condições sociais e humanas que caracterizaram a geração de 70.
Para terminar, com algumas dúvidas, acabei por escolher Os Interessantes de Meg Wolitzer, que relata a história de seis amigos nova-iorquinos dos anos dourados de 60/70 (onde a paz duradoura, o avanço económico-tecnológico e a revolução cultural foram os motores duma geração que a tudo podia), e explora toda a narrativa das suas vidas que, entrecruzando-se, ainda assim diverge e provoca o desvanecimento dos laços da adolescência.
Muito ao estilo de Tom Wolfe, Wolitzer consegue uma análise interessante (não fosse o nome do livro) da condição humana, com especial atenção aos laços humanos que se estabelecem, mas também aos sentimentos que os podem corromper quando a desigualdade se manifesta (seja de talento, capacidades, dinheiro ou intelectualidade). O fatalismo acaba por ser tema dominante na obra, sendo que (porque apenas alguns dos amigos atingem as suas potencialidades) a inveja, egoísmo e ego serão motivo de separação de uma amizade que, existente, será muito artificial e totalmente diferente à pureza que esteve na sua génese.
De leitura acessível, ainda que a edição da Teorema tenha cerca de 600 páginas, é um livro que merece ser lido, pois é uma reflexão sobre toda uma geração que a tudo podia mas que, no essencial, falhou. E é nessa derrota que a autora tenta procurar se a razão é intrinsecamente humana ou se deriva de todas as condições sociais e humanas que caracterizaram a geração de 70.
Até lá, boas leituras!
João Madeira
A sugestão de Setembro 2015:
A Inês Reis, aluna do 4º ano, dá-nos um pequenino resumo desta grande obra!
Mais informações. atirem-se a ele...
Mais informações. atirem-se a ele...
Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez José Arcádio Buendía fundou Macondo quando fugia da maldição da família e dos remorsos que o atormentavam. "O mundo era ainda tão recente" que os próprios Deuses parecia não o dominarem ainda muito bem. Este paraíso onde os Deuses e os ciganos deslumbravam os habitantes com os seus truques, havia de resistir a intempéries e revoluções, à doença do sono e à do esquecimento. Até à companhia bananeira havia de resistir, para ser por fim, irreversivelmente arrasada pela solidão acomulada em cem anos, que a varreu sob a forma de furacão. |
Inês Reis, aluna do 4º ano
Quão poderosa a sugestão literária de Maio 2015 pode ser para ti?
Dizia Airton Ortiz numa das suas célebres frases:
“Somos o resultado dos livros que lemos, das viagens que fazemos e das pessoas que amamos.”
Este mês sugerimos 2 livros contados de uma forma diferente e propostos pela Ana Luísa Pereira (aluna do 5º ano e Diretora da Frontal, a revista da nossa Faculdade de Ciências Médicas!).
A Montanha Mágica - Thomas Mann
Há livros que nos sugam. Quando li A Montanha Mágica pela primeira vez, percebi que, tal como Hans Castorp, a personagem principal, dificilmente iria recuperar daquele lugar. Desde então, habito neste livro (mais ou menos profundamente - é um sítio a que volto sempre). Aviso, por isso, o futuro leitor: ninguém escapa à Montanha. Se há coisa que Thomas Mann fez de impressionante foi, sem dúvida, este monumento à Literatura, que lhe valeu o Nobel em 1929. No fundo, escreveu sobre a “relatividade”, mesmo não sendo homem de ciência - um livro sem tempo para quem habita nele (as personagens) e por quem se deixa absorver (o leitor); que não teve tempo no tempo em que foi escrito, levando a Mann mais de uma década a ser terminado.
Entremos na história, subamos à montanha:
Hans Castorp era um corriqueiro engenheiro naval, original de Hamburgo. Decide visitar o primo Joachim internado num sanatório nos Alpes, tuberculoso. O plano era ficar apenas três semanas, aproveitar para tratar uma ligeira anemia e regressar à sua vida de sempre. No entanto, também Hans foi acometido de tuberculose pulmonar, e de visitante passou a doente. Internado como os demais, o sanatório em Davos passou a ser a casa, a cidade e o mundo de Hans, que a pouco e pouco se vai desligando da vida “na planície” e acomodando ao ar rarefeito da montanha, à doença, à morte, à ausência de tempo. O fim como terreno a ser ocupado por outro doente, mais uma cama vaga, menos um quarto vazio e a doença, tão lenta, torna tudo serenamente breve - a brevidade como eixo de rotação.
Um pormenor interessante é que Thomas Mann escreveu esta obra em dois momentos: pré e pós-Grande Guerra. Outro pormenor é que o leitor consegue percebê-lo no ritmo do próprio livro. Há um certo desencanto que se consagra no detalhe da fragilidade humana - une destruction organique que aceleramos não por sermos apanhados pela doença, mas por nos matarmos com uma urgência que roça o insano. O próprio Hans, sete anos depois de entrar no sanatório, termina a sua história nas trincheiras de guerra - não morreu, será que se matou?
Na montanha há de tudo: os humanistas e os jesuítas, os boémios e os russos, os que vêm de passagem (turistas das alturas), e os que se deixam apanhar para sempre, os que têm um fim e os que acabam sem destino… Há paixão, drama, profecias e obsessão. Um reflexo da humanidade espelhado no topo da montanha. Uma amostra de tudo num lugar feito de nada.
Ler A Montanha Mágica é uma aventura, um mundo de crescimento interno profundo.
Uma irónica gargalhada que todos deveríamos ter coragem de guardar.
Aparição - Vergílio Ferreira
“Ah, como te torces dentro de ti! Também tu então não sabias nada de ti! Também eu te trouxe a notícia das trevas onde hás-de acender a nova luz.”, p. 95
A acção da narrativa centra-se em Évora, retratando episódios da vida de um professor, Alberto Soares, cuja mente é constantemente interpelada por questões metafísicas, conduzindo este homem a uma constante dúvida acerca do seu verdadeiro Eu.
Em Évora, Alberto conhece o Dr. Moura, assim como as suas filhas: Ana, Sofia e Cristina. Foi a Sofia que, mais tarde, Alberto deu aulas de latim, desenvolvendo com esta uma relação amor-ódio muito peculiar; esta mulher, por sua vez, apresentava comportamentos estranhos, dignos de uma lunática. Também com Carolino, seu aluno, Alberto estabelece uma relação amistosa, revelando a este o momento em que percebeu que, de facto, existia…
No fundo, Alberto era um retórico, e a sua personagem era a aclamação viva da “aparição” de cada homem; o que ele pretendia, realmente, era extrair o ser que habita em cada um e, ao longo da história, enquanto deambula por questões existenciais, apercebe-se que na sociedade em que vive essas aparições são raríssimas, pois as pessoas, em geral, tendem apenas a cair no ridículo de viver; isto é, não existem, como se a letargia da rotina as prendesse à sucessão sincronizada de cenas do nosso quotidiano, cenas essas que apagam os pormenores de onde se extrai a beleza de Existir, literalmente.
Ao longo do romance, vamos assistindo à morte de várias personagens (algumas presenciadas pelo leitor por meio de analepses), aos devaneios filosóficos de outras e à revelação de Alberto a si mesmo…
Enfim, Aparição não é apenas uma longa dissertação metafísica camuflada de romance, é, ao invés, uma obra riquíssima de todos os pontos de vista, digna da leitura mais minuciosa. Não se perde em falsos dilemas nem em devaneios fúteis; toma, por seu lado, a retórica e apresenta-a ao leitor por via de uma obra excelsa.
Não posso negar o quanto me perturbaram (e não digo isto de um modo depreciativo) as personagens e o enredo, pois, no final, senti uma enorme clarividência e, paradoxalmente, uma enchente de questões avassaladoras, uma sede enorme de questionar quem Sou e para que Sou.
Completíssimo e soberbo, escrito numa prosa admirável, Aparição merece, sem dúvida, recomendação.
“Ah, como te torces dentro de ti! Também tu então não sabias nada de ti! Também eu te trouxe a notícia das trevas onde hás-de acender a nova luz.”, p. 95
A acção da narrativa centra-se em Évora, retratando episódios da vida de um professor, Alberto Soares, cuja mente é constantemente interpelada por questões metafísicas, conduzindo este homem a uma constante dúvida acerca do seu verdadeiro Eu.
Em Évora, Alberto conhece o Dr. Moura, assim como as suas filhas: Ana, Sofia e Cristina. Foi a Sofia que, mais tarde, Alberto deu aulas de latim, desenvolvendo com esta uma relação amor-ódio muito peculiar; esta mulher, por sua vez, apresentava comportamentos estranhos, dignos de uma lunática. Também com Carolino, seu aluno, Alberto estabelece uma relação amistosa, revelando a este o momento em que percebeu que, de facto, existia…
No fundo, Alberto era um retórico, e a sua personagem era a aclamação viva da “aparição” de cada homem; o que ele pretendia, realmente, era extrair o ser que habita em cada um e, ao longo da história, enquanto deambula por questões existenciais, apercebe-se que na sociedade em que vive essas aparições são raríssimas, pois as pessoas, em geral, tendem apenas a cair no ridículo de viver; isto é, não existem, como se a letargia da rotina as prendesse à sucessão sincronizada de cenas do nosso quotidiano, cenas essas que apagam os pormenores de onde se extrai a beleza de Existir, literalmente.
Ao longo do romance, vamos assistindo à morte de várias personagens (algumas presenciadas pelo leitor por meio de analepses), aos devaneios filosóficos de outras e à revelação de Alberto a si mesmo…
Enfim, Aparição não é apenas uma longa dissertação metafísica camuflada de romance, é, ao invés, uma obra riquíssima de todos os pontos de vista, digna da leitura mais minuciosa. Não se perde em falsos dilemas nem em devaneios fúteis; toma, por seu lado, a retórica e apresenta-a ao leitor por via de uma obra excelsa.
Não posso negar o quanto me perturbaram (e não digo isto de um modo depreciativo) as personagens e o enredo, pois, no final, senti uma enorme clarividência e, paradoxalmente, uma enchente de questões avassaladoras, uma sede enorme de questionar quem Sou e para que Sou.
Completíssimo e soberbo, escrito numa prosa admirável, Aparição merece, sem dúvida, recomendação.
Ana Luísa Pereira, aluna do 5º ano
Este mês de Abril 2015 celebramos a Páscoa e a leitura, com as novíssimas sugestões literárias!
Desta vez temos 4 sugestões de Santiago Rodrigues Manica (aluno do 6º ano da FCM-NOVA)!
A primeira sugestão é sobre o último livro que se leu no Clube de Leitura do Occipital ! (para informações sobre o próximo livro do clube dirige-te aqui.)
A primeira sugestão é sobre o último livro que se leu no Clube de Leitura do Occipital ! (para informações sobre o próximo livro do clube dirige-te aqui.)
A metamorfose – Franz Kafka
A história relata como um vendedor viajante checo, Gregor Samsa, acorda metamorfoseado num grande monstro semelhante a um insecto. O resto da novela descreve como Gregor tenta adaptar-se à nova condição. Este deixa de ser a figura coesiva da sua família e torna-se numa carga desagradável. Basicamente é um homem alienado que deixou de ser útil, segundo todos os critérios da sociedade.
Esta obra expressa um constante conflito de expectativas; por um lado a família que perde a sua figura coesiva e a sua fonte de sustento e adquire um “monstro” alienado, por outro o conflito entre as expectativas da mente humana de Gregor contra as necessidades fisiológicas do corpo animalesco.
Na minha opinião o “insecto” pode ser encontrado todos os dias, não como uma barata, mas como o familiar com demência ou fisicamente incapacitado, que deixa de ser o centro de sustento da família para tornar-se, de forma lamentável, numa “carga” não desejada.
A história relata como um vendedor viajante checo, Gregor Samsa, acorda metamorfoseado num grande monstro semelhante a um insecto. O resto da novela descreve como Gregor tenta adaptar-se à nova condição. Este deixa de ser a figura coesiva da sua família e torna-se numa carga desagradável. Basicamente é um homem alienado que deixou de ser útil, segundo todos os critérios da sociedade.
Esta obra expressa um constante conflito de expectativas; por um lado a família que perde a sua figura coesiva e a sua fonte de sustento e adquire um “monstro” alienado, por outro o conflito entre as expectativas da mente humana de Gregor contra as necessidades fisiológicas do corpo animalesco.
Na minha opinião o “insecto” pode ser encontrado todos os dias, não como uma barata, mas como o familiar com demência ou fisicamente incapacitado, que deixa de ser o centro de sustento da família para tornar-se, de forma lamentável, numa “carga” não desejada.
Animal farm – George Orwell
A obra decorre na “Manor farm”, uma quinta rural inglesa onde os animais vivem descontentes com o domínio humano de Mr. Jones. Ao longo da história podemos acompanhar como os animais, liderados pelos porcos, lutam para assumir o poder em defesa da ideologia do “Animalismo”.
À partida este livro pode parecer uma obra de literatura infantil. No entanto, o leitor não deve ficar iludido pela pequena dimensão da obra e a escrita fácil de acompanhar. Animal farm é uma peça cheia de alegorias a eventos reais. Segundo o autor esta obra pretende retratar os eventos que originaram a revolução russa de 1917 e culminaram na chegada de Joseph Stalin à liderança da URSS.
O autor descreve como os líderes da revolução recorrem a mentiras, iliteracia, propaganda, técnicas de “caça às bruxas” e guerras de poder internas.
Recomendo a análise do perfil psicológico de cada animal e a forma como cada um destes vive o período revolucionário. Desde os jogos de manipulação de Napoleão, o cepticismo de Benjamin e a falta de espírito crítico de Boxer.
A obra decorre na “Manor farm”, uma quinta rural inglesa onde os animais vivem descontentes com o domínio humano de Mr. Jones. Ao longo da história podemos acompanhar como os animais, liderados pelos porcos, lutam para assumir o poder em defesa da ideologia do “Animalismo”.
À partida este livro pode parecer uma obra de literatura infantil. No entanto, o leitor não deve ficar iludido pela pequena dimensão da obra e a escrita fácil de acompanhar. Animal farm é uma peça cheia de alegorias a eventos reais. Segundo o autor esta obra pretende retratar os eventos que originaram a revolução russa de 1917 e culminaram na chegada de Joseph Stalin à liderança da URSS.
O autor descreve como os líderes da revolução recorrem a mentiras, iliteracia, propaganda, técnicas de “caça às bruxas” e guerras de poder internas.
Recomendo a análise do perfil psicológico de cada animal e a forma como cada um destes vive o período revolucionário. Desde os jogos de manipulação de Napoleão, o cepticismo de Benjamin e a falta de espírito crítico de Boxer.
Mário e o mágico – Thomas Mann
Este livro escrito em 1929 por Thomas Mann é contemporâneo do governo de Mussolini na Itália, da chegada ao poder de Stalin na URSS e o curto período democrático alemão conhecido como “República de Weimar”, que estava a ser ameaçado pela crescente popularidade de um político relativamente anónimo que dava pelo nome de Adolf Hitler.
Mann alerta de forma aberta e explícita os riscos do absolutismo, nomeadamente do fascismo. Este foi um dos grandes motivos do seu exílio na Suíça, durante o nacional-socialismo.
A história decorra na vila de Torre di Venere onde o narrador passa férias com a família. Nesta vila a família encontra um hipnotista, de nome Cipolla, que usa a sua retórica para manipular as mentes mais débeis da aldeia. Cipolla é uma caricatura dos líderes autoritários que abundavam na Europa durante a primeira metade do século XX. Mário, um nativo de Torre di Venere, acaba por ter um papel importante na história (que não irei revelar aqui).
Esta obra serve de alerta aos compatriotas alemães de Mann para que tenham cautela com a crescente popularidade do partido Nazi (NSDAP), que viria a alcançar oficialmente o poder quatro anos depois, em 1933.
Esta obra intemporal, que vai para além fronteiras, desperta o espírito crítico e alerta contra os perigos dos falsos salvadores com discursos exageradamente prometedores.
Este livro escrito em 1929 por Thomas Mann é contemporâneo do governo de Mussolini na Itália, da chegada ao poder de Stalin na URSS e o curto período democrático alemão conhecido como “República de Weimar”, que estava a ser ameaçado pela crescente popularidade de um político relativamente anónimo que dava pelo nome de Adolf Hitler.
Mann alerta de forma aberta e explícita os riscos do absolutismo, nomeadamente do fascismo. Este foi um dos grandes motivos do seu exílio na Suíça, durante o nacional-socialismo.
A história decorra na vila de Torre di Venere onde o narrador passa férias com a família. Nesta vila a família encontra um hipnotista, de nome Cipolla, que usa a sua retórica para manipular as mentes mais débeis da aldeia. Cipolla é uma caricatura dos líderes autoritários que abundavam na Europa durante a primeira metade do século XX. Mário, um nativo de Torre di Venere, acaba por ter um papel importante na história (que não irei revelar aqui).
Esta obra serve de alerta aos compatriotas alemães de Mann para que tenham cautela com a crescente popularidade do partido Nazi (NSDAP), que viria a alcançar oficialmente o poder quatro anos depois, em 1933.
Esta obra intemporal, que vai para além fronteiras, desperta o espírito crítico e alerta contra os perigos dos falsos salvadores com discursos exageradamente prometedores.
Um conto de duas cidades – Charles Dickens
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way(…)”. Assim começa “Um conto de duas cidades”, com uma das mais belas introduções da literatura anglo-saxónica.
Esta obra dividida em três livros representa a loucura de duas cidades; Paris e Londres durante a revolução francesa.
Após 18 anos de prisão política na Bastilha o envelhecido Dr. Manette é libertado e reencontra-se com a sua filha, Lucie Manette, em Inglaterra. A história é complicada por um triângulo amoroso que envolve a filha do Dr. Manette, um aristrocrata francês no exílio, Charles Darnay e um advogado inglês, Sydney Carton.
Para além dos dramas interpessoais, esta obra surpreende pelo contraste entre as ruas pacíficas de Londres e o caos e derrame de sangue nas ruas de Paris durante o período do terror. Curiosamente, em ambas as cidades cometem-se todo o tipo de injustiças e abuso de poder em nome da manutenção da ordem.
Destaco a capacidade descritiva do autor, que “pinta” com as palavras um surpreendente retrato social.
No mundo actual, cheio de guerras, injustiças, conflitos e extremismos “a tale of two cities” serve de testemunho intemporal da obra da mão destrutiva do homem, quando certas condições “excepcionais” se reúnem.
"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way(…)”. Assim começa “Um conto de duas cidades”, com uma das mais belas introduções da literatura anglo-saxónica.
Esta obra dividida em três livros representa a loucura de duas cidades; Paris e Londres durante a revolução francesa.
Após 18 anos de prisão política na Bastilha o envelhecido Dr. Manette é libertado e reencontra-se com a sua filha, Lucie Manette, em Inglaterra. A história é complicada por um triângulo amoroso que envolve a filha do Dr. Manette, um aristrocrata francês no exílio, Charles Darnay e um advogado inglês, Sydney Carton.
Para além dos dramas interpessoais, esta obra surpreende pelo contraste entre as ruas pacíficas de Londres e o caos e derrame de sangue nas ruas de Paris durante o período do terror. Curiosamente, em ambas as cidades cometem-se todo o tipo de injustiças e abuso de poder em nome da manutenção da ordem.
Destaco a capacidade descritiva do autor, que “pinta” com as palavras um surpreendente retrato social.
No mundo actual, cheio de guerras, injustiças, conflitos e extremismos “a tale of two cities” serve de testemunho intemporal da obra da mão destrutiva do homem, quando certas condições “excepcionais” se reúnem.
A lista de livros a recomendar seria interminável! No entanto, de forma a não desmotivar o leitor ocasional, optei por 4 “must read” que espero que despertem a curiosidade.
Até lá, boas leituras!
Santiago Rodrigues Manica
Com o mês de Março 2015 chega a Primavera e as novas sugestões literárias!
Desta vez temos 4 sugestões de Rui Malha (aluno do 5º ano da FCM-NOVA) ! Aqui estão elas.
Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
Enquanto adolescente, foram bastantes os livros de ficção científica que passaram pelas minhas mãos e este clássico (juntamente com o seu companheiro “1984” de George Orwell) foi um dos primeiros. Uma obra escrita de maneira a deixar os seus leitores desconfortáveis, “Admirável Mundo Novo” retrata uma utopia “ideal”, onde toda a gente é feliz, tem aquilo que quer e deseja e onde tudo é regido com base em princípios científicos, lógicos e racionais. No entanto, nem sempre aquilo que queremos é aquilo que devemos ter. Numa sociedade onde os seus habitantes são fabricados em série (literalmente), “moldados” desde a nascença, e onde a palavra “mãe” é tabu, Huxley apresenta um mundo cinzento, despido de individualidades, opiniões, ética e aprendizagem. A sua mensagem final é profética e intemporal, fazendo-nos questionar o quanto somos condicionados pela sociedade consumista que nos rodeia. |
1Q84 - Haruki Murakami
Na minha opinião, Haruki Murakami é um dos contadores de histórias mais talentosos da actualidade e, por isso, não o podia deixar de referir. Numa obra que mistura elementos de fantasia, ficção científica, mistério, romance e uma pitada de contos de fadas e sobrenatural, “1Q84” acompanha duas histórias convergentes que transcendem o tempo e o espaço, levando-nos numa viagem inesperada onde nada é aquilo que parece ser. O sentimento de não saber em que sentido o autor está a levar a narrativa, faz-nos querer avançar mais e mais na sua leitura, tornando um livro de dimensões “Harrisonianas” numa leitura rápida e emocionante. Além de obrigar a algumas reflexões sobre as coincidências da vida, tem como efeito secundário uma vontade forte de ir à janela ver quantas luas estão no céu. |
A Queda dos Gigantes - Ken Follett
Em “A Queda dos Gigantes”, Ken Follett inspira-se nos acontecimentos históricos do século XX e descreve-nos a saga deste tumultuoso período através da perspetiva de cinco famílias de diferentes nacionalidades (escocesa, inglesa, russa, alemã e americana). Este livro é o início de uma trilogia onde o autor, através de uma escrita direta, apelativa e imparcial, explora factos marcantes da história mundial através do ponto de vista das suas inúmeras personagens. Guerras, ideologias, acontecimentos e revoluções (políticas e não só), são vividas e descritas por homens e mulheres com idades, personalidades, perspetivas, sonhos e ambições díspares e que refletem a evolução social, política e cultural mundial desde 1900. Nesta obra, o autor leva-nos a questionar as várias faces, acções, ideologias e factos deste capítulo da história da humanidade que pensamos conhecer, forçando-nos a reconhecer que nem tudo é a preto e branco. |
O Último Cabalista de Lisboa - Richard Zimler
Na obra, “O Último Cabalista de Lisboa”, Richard Zimler retrata uma visão de Portugal que nem sempre coincide com o que aprendemos nos livros de história. Através de uma espécie de “policial histórico”, dá-nos a conhecer uma Lisboa em 1506, onde os judeus, ou cristãos-novos, são perseguidos, torturados e queimados, no que o rei e a igreja proclamavam ser um acto de fé cristã. Numa leitura cativante, acompanhamos Berequias Zarco, um jovem judeu, na busca pelo assassino do seu tio num refúgio secreto para praticantes da Cabala e vemos através dos seus olhos a realidade de um dos períodos mais negros da história portuguesa, o da Inquisição. Na minha opinião é através do conhecimento e do reconhecimento dos erros que os nossos antepassados cometeram que podemos evitar repeti-los, o que me leva a aconselhar esta leitura a todos vós. |
Boas leituras!
Rui Malha
Este mês de Fevereiro 2015 fazemos as coisas de maneira diferente!
Para quem não consegue decidir entre dois amores, Medicina e Literatura, deixamos que os dois se envolvam nestas 5 sugestões de Joana Dionísio (aluna do 4º ano da FCM-NOVA) ! Ela conta-nos que:
"Sugerir livros nunca é fácil, sejam eles de leitura obrigatória para esta ou aquela cadeira, ou apenas para passar um bom serão junto de uma lareira. Mais difícil é ainda recomendar livros que possam ter particular interesse para nós, enquanto estudantes de Medicina. O que ler, no meio dos calhamaços da Anatomia, dos apontamentos por ler de Imunologia e dos electrocardiogramas para sempre incompreendidos? Biografias dos grandes cirurgiões do século XVIII? Romances de personalidades excêntricas? Um banal thriller? Um romance de desnortear o sistema límbico? Memórias do “banco”?
As minhas escolhas seguem por ordem cronológica de narrativa e cada uma delas se relaciona, à sua maneira, com as áreas médicas. Uns terão maior potencial para transmitir uma mensagem mais forte, enquanto outros se limitarão à sua singela função de “entreter” o leitor."
A Papisa Joana - Donna Woolfolk Cross
Joana, filha de um clérigo saxão do século IX d. C., aprendeu demasiadamente bem duas coisas durante a sua infância: faz parte da condição de mulher sofrer e ser humilhada às mãos dos homens e que, como tal, é preferível nascer com o sexo oposto. Tendo assistido à morte de várias mulheres por ajudarem em partos e acabando ela própria por ser acusada pela morte do irmão Mateus, Joana não vê qualquer futuro para si própria. Por insistência de um sábio que ensinara ao seu irmão João latim e grego, é permitido que ela tenha aulas num mosteiro, pela sua inteligência invulgar.
Num mundo onde a ignorância caminhava de mãos dadas com o fanatismo religioso, a protagonista passa por duras provações devido ao seu sexo, não lhe sendo reconhecido mérito ou capacidade intelectual. Quando a vila é atacada por vikings, Joana consegue fugir e decide esconder-se disfarçada com o nome do irmão, entrando no mosteiro de Fulda, onde se torna numa hábil curandeira. Ao longo da narrativa, Joana desafia vários dogmas do conhecimento médico da altura.
Defendia uma examinação atenta daqueles que eram chamados leprosos, por conhecer várias doenças dermatológicas que se assemelhavam à lepra (como, inclusivamente, a própria falta de higiene). Proibia práticas como beijar a cruz como forma de prevenir a disseminação de doenças em pequenas aldeias. A sua fama cresceu de tal forma que foi convidada a curar Sua Santidade, o Papa Leão V das suas crises constantes de gota. Em pleno Vaticano, Joana vê-se dividida entre as suas convicções e o seu dever para com um povo ignorante e desesperado e um amor que sempre lhe foi negado.
A Papisa Joana é um livro que reduz a nossa entrada no curso de medicina a um simples factor: é tudo uma questão de viver na época correcta. Joana repudiava crenças e práticas médicas que desafiavam o senso comum – como fazer isso, nos dias de hoje, no meio da miríade de guidelines e normas, defendidos por rigorosos artigos baseados na evidência? Haverá ainda alguma coisa para contrapor na nossa prática? Numa altura de rompimento entre religião e medicina, não haverá qualquer hipótese de reconciliação? Donna Crossa obriga-nos a pensar nestas questões, se considerarmos a narrativa nos dias de hoje. Numa época em que damos tudo (ou quase tudo) como garantido ou conhecido, é necessário olhar para o nosso percurso ao longo dos séculos e reflectir se não poderemos cair nos mesmos erros.
Para quem adora romances históricos, este é um bom livro a tirar da estante.
O Doutor Jivago - Boris Pasternak
O Doutor Jivago foi classificado, em 1958, como “material de propaganda anticomunista” pela CIA, que fomentava a sua publicação e divulgação, o que mostra como até um bom romance, com uma boa crítica, pode ser corrompido para fins políticos.
Ler este livro requer alguma dose de atenção, não só pela riqueza da narrativa, com detalhes escondidos em metáforas hábeis, como pelas complicadas relações entre as personagens. Cada individuo tem uma história, uma particularidade que esconde uma crítica. Yuri, o protagonista, o Doutor Jivago, não é só um médico e poeta honesto – é a personificação da solidão, do desconsolo político, da vã tentativa de individualismo e da esperança num amanhã melhor. Pela sua vocação como médico e defensor da Humanidade, Yuri sente sentimentos contraditórios em relação ao fervilhar do regime comunista: tanto os odeia, como enaltece os seus ideais revolucionários e reformistas, para novamente cair na apatia, ao ver como rapidamente estes se tornam banalizados por mentes insensíveis que só servem os seus próprios interesses. Este é um livro que se mantém, perdoem-me a expressão, “horrivelmente” actualizado, e não pelos melhores motivos.
Doutor Jivago não se limita a crítica – aliás, ficou conhecido por ser um dos romances mais trágicos já escritos. No rebentar da Primeira Guerra Mundial, Yuri trabalha como médico num hospital de guerra quando volta a encontrar Lara, o verdadeiro amor da sua vida, que se alistara como enfermeira para encontrar o seu marido, desaparecido em combate. A indecisão entre amar e não amar leva-o a perseguir Lara e ao seu gradual afastamento da família, acabando por ser raptado por membros de guerrilha bolchevique.
O Doutor Jivago foi classificado, em 1958, como “material de propaganda anticomunista” pela CIA, que fomentava a sua publicação e divulgação, o que mostra como até um bom romance, com uma boa crítica, pode ser corrompido para fins políticos.
Ler este livro requer alguma dose de atenção, não só pela riqueza da narrativa, com detalhes escondidos em metáforas hábeis, como pelas complicadas relações entre as personagens. Cada individuo tem uma história, uma particularidade que esconde uma crítica. Yuri, o protagonista, o Doutor Jivago, não é só um médico e poeta honesto – é a personificação da solidão, do desconsolo político, da vã tentativa de individualismo e da esperança num amanhã melhor. Pela sua vocação como médico e defensor da Humanidade, Yuri sente sentimentos contraditórios em relação ao fervilhar do regime comunista: tanto os odeia, como enaltece os seus ideais revolucionários e reformistas, para novamente cair na apatia, ao ver como rapidamente estes se tornam banalizados por mentes insensíveis que só servem os seus próprios interesses. Este é um livro que se mantém, perdoem-me a expressão, “horrivelmente” actualizado, e não pelos melhores motivos.
Doutor Jivago não se limita a crítica – aliás, ficou conhecido por ser um dos romances mais trágicos já escritos. No rebentar da Primeira Guerra Mundial, Yuri trabalha como médico num hospital de guerra quando volta a encontrar Lara, o verdadeiro amor da sua vida, que se alistara como enfermeira para encontrar o seu marido, desaparecido em combate. A indecisão entre amar e não amar leva-o a perseguir Lara e ao seu gradual afastamento da família, acabando por ser raptado por membros de guerrilha bolchevique.
A Casa dos Deuses - Samuel Shem
Lei 13: prestar cuidados médicos consiste em fazer o máximo de nada tanto quanto possível.
A Casa dos Deuses está para os estudantes de Medicina comoFicheiros Secretos está para qualquer geek. É um livro de culto. Se, de todos estes livros, me pedissem para indicar um que fosse absolutamente necessário que um jovem médico lesse, eu indicaria este. É mais do que uma sátira cómica – é um retrato triste. Numa linha ténue entre uma caricatura exagerada e uma realidade que preferimos ignorar, vestimos a bata do interno Roy Basch no hospital House of God. A missão de Roy, recém-formado de Medicina, sem qualquer experiência, é salvar pacientes fazendo o mínimo possível, quebrando as tremendas regras do hospital. Este contra-senso assemelha-se muito às nossas práticas de medicina: quantas vezes não vemos, por exemplo, polimedicação desnecessária apenas porque “temos de fazer alguma coisa”?
As semelhanças entre este livro, escrito em 1978, e a nossa realidade não se ficam por aqui. São descritos os casos dos pacientes que pedem pela sua morte (a que Roy acaba por aceder, num deles), as relações conflituosas entre membros das equipas, a pressão e a luta pelo topo da hierarquia médica e a rivalidade entre os departamentos médicos. 37 anos volvidos desde que este livro entrou nas prateleiras, teremos nós mudado assim tanto, em termos de prática médica?
Lei 13: prestar cuidados médicos consiste em fazer o máximo de nada tanto quanto possível.
A Casa dos Deuses está para os estudantes de Medicina comoFicheiros Secretos está para qualquer geek. É um livro de culto. Se, de todos estes livros, me pedissem para indicar um que fosse absolutamente necessário que um jovem médico lesse, eu indicaria este. É mais do que uma sátira cómica – é um retrato triste. Numa linha ténue entre uma caricatura exagerada e uma realidade que preferimos ignorar, vestimos a bata do interno Roy Basch no hospital House of God. A missão de Roy, recém-formado de Medicina, sem qualquer experiência, é salvar pacientes fazendo o mínimo possível, quebrando as tremendas regras do hospital. Este contra-senso assemelha-se muito às nossas práticas de medicina: quantas vezes não vemos, por exemplo, polimedicação desnecessária apenas porque “temos de fazer alguma coisa”?
As semelhanças entre este livro, escrito em 1978, e a nossa realidade não se ficam por aqui. São descritos os casos dos pacientes que pedem pela sua morte (a que Roy acaba por aceder, num deles), as relações conflituosas entre membros das equipas, a pressão e a luta pelo topo da hierarquia médica e a rivalidade entre os departamentos médicos. 37 anos volvidos desde que este livro entrou nas prateleiras, teremos nós mudado assim tanto, em termos de prática médica?
Sinto Muito - Nuno Lobo Antunes
Fica desde já o aviso: é uma leitura muito, muito triste. Trata-se de um conjunto de pequenas crónicas e histórias vividas pelo Dr. Nuno Lobo Antunes durante o seu percurso médico, tanto em Portugal como nos Estados Unidos da América. Enquanto alguns contos nos enchem de esperança, outros fazem-nos querer pousar o livro e encher os olhos com substâncias banais, de tão horríveis que são as suas histórias. É assim a Medicina: tanto se ama, como se detesta. Há dias bons e depois há aqueles que só queremos esquecer.
Fica desde já o aviso: é uma leitura muito, muito triste. Trata-se de um conjunto de pequenas crónicas e histórias vividas pelo Dr. Nuno Lobo Antunes durante o seu percurso médico, tanto em Portugal como nos Estados Unidos da América. Enquanto alguns contos nos enchem de esperança, outros fazem-nos querer pousar o livro e encher os olhos com substâncias banais, de tão horríveis que são as suas histórias. É assim a Medicina: tanto se ama, como se detesta. Há dias bons e depois há aqueles que só queremos esquecer.
Inferno – Dan Brown
Quem conhece Dan Brown está habituado à sua fórmula rotineira. Encontramos, uma vez mais, o Professor Robert Langdon, que é afastado das suas aulas em Oxford para desvendar um mistério por detrás do Inferno, de Dante, que antevê o disseminar de uma nova “Peste Negra” no século XXI.
Se os livros pudessem ter uma classificação gastronómica, consideraria que Inferno se encontra na categoria fast-food.
Lê-se rapidamente, adivinha-se facilmente o enredo, mas consegue ser uma leitura agradável… Para quem está muito cansado e não quer cozinhar, perdão, ler algo mais pesado. Não obstante, é de louvar a capacidade de Dan Brown de conciliar um enredo thriller com factos científicos e históricos sublimemente intrincados. Talvez por isso o enredo não seja o seu ponto forte. São focados temas como o crescimento expansivo da Humanidade, a escassez de água potável, a insustentabilidade dos recursos médicos perante novas doenças e a necessidade premente de erradicar certas doenças tropicais pelo descontrolo na sua disseminação (como, aliás, foi exemplo isso o surto de Ébola de 2014).
O desfecho do livro é, no entanto, perturbador por ser, como diria Al Gore, uma verdade muito inconveniente.
Quem conhece Dan Brown está habituado à sua fórmula rotineira. Encontramos, uma vez mais, o Professor Robert Langdon, que é afastado das suas aulas em Oxford para desvendar um mistério por detrás do Inferno, de Dante, que antevê o disseminar de uma nova “Peste Negra” no século XXI.
Se os livros pudessem ter uma classificação gastronómica, consideraria que Inferno se encontra na categoria fast-food.
Lê-se rapidamente, adivinha-se facilmente o enredo, mas consegue ser uma leitura agradável… Para quem está muito cansado e não quer cozinhar, perdão, ler algo mais pesado. Não obstante, é de louvar a capacidade de Dan Brown de conciliar um enredo thriller com factos científicos e históricos sublimemente intrincados. Talvez por isso o enredo não seja o seu ponto forte. São focados temas como o crescimento expansivo da Humanidade, a escassez de água potável, a insustentabilidade dos recursos médicos perante novas doenças e a necessidade premente de erradicar certas doenças tropicais pelo descontrolo na sua disseminação (como, aliás, foi exemplo isso o surto de Ébola de 2014).
O desfecho do livro é, no entanto, perturbador por ser, como diria Al Gore, uma verdade muito inconveniente.
Boas leituras!
Joana Dionísio, aluna do 4º ano
Ano Novo, Leituras Novas! Janeiro 2015 chega com novas sugestões!
Começamos o primeiro mês de 2015 com as 4 sugestões de Diana Oliveira, aluna do 6º ano da FCM-NOVA.
A História Secreta - Donna Tartt
Este livro relata a história de um grupo de jovens, muito diferentes, que se encontram na faculdade, e permanecem unidos por um segredo obscuro. É um relato cru do bem e do mal, das zonas cinzentas da moral, do desespero, que nos faz reflectir sobre as consequências dos nossos actos. A descrição das emoções e pensamentos é impressionante, e deixa-nos com um nó na garganta a maior parte do tempo; queremos chegar ao fim só para poder respirar de alívio. A história está contada numa linha temporal que anda constantemente para a frente e para trás, escrita na primeira pessoa, que nos mantém presos a cada palavra e com vontade de ler o livro todo de um só fôlego. |
A Leste do Paraíso - John Steinbeck Um livro já antigo que não quis deixar de relembrar porque inspira a apreciar a nossa casa como parte essencial da nossa felicidade. A descrição do amor pela terra, pelo chão que se pisa, pelos lugares e paisagens, como se de pessoas se tratassem, é impressionante. O cenário é tão importante como as personagens que nele estão. Baseia-se em aspectos reais da vida do autor, saltando de geração em geração, e passa-se nos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia, na primeira metade do século XX. |
O Véu Pintado - W. Somerset Maugham Um romance de puxar à lágrima, um drama a sério, com todos os seus ingredientes: tem a traição, o amor, raiva, os remorsos, até a morte. Passa-se num mundo Oriental, encantado, em que tudo é delicado e quente e no qual Kitty, a personagem principal, se sente só e incompreendida. É mais uma história de amor – há muitas, escolhi esta. |
A Cúpula - Stephen King Já toda a gente ouviu falar do mestre do terror, que neste caso mudou um pouco o seu estilo. É um tipo de horror diferente, mais de ficção-científica, que nos faz constatar que o maior perigo para a humanidade é ela própria. É uma narrativa enorme, com uma história muito complexas e várias personagens, que se vêm isoladas do mundo por um evento inexplicável. Foi uma leitura fora do habitual para mim, mas que me prendeu, quase como se estivesse a ver um filme. |
Boas leituras!
Diana Oliveira
Começamos então este mês de Novembro 2014 com as óptimas sugestões de...
Adélia Rocha, aluna do 5º ano da FCM-NOVA, ávida leitora e agora também, crítica de livros !
Por favor não matem a cotovia - Harper Lee
Ok, é um clássico.
Ok, provavelmente toda a gente conhece o livro nem que seja de nome.
Contudo se eu apenas o li este Verão talvez haja muita gente em igual situação, motivo pelo qual me atrevo a sugeri-lo. O único livro editado por esta escritora é um must read em qualquer parte do mundo, em qualquer idade. Transporta-nos para uma época completamente diferente em que as desigualdades sociais determinadas pela cor da pele ou género ainda eram uma realidade, mas não de forma fria e distante.
Scout abre-nos o coração e a mente para experienciarmos esse tempo através da inocência e simplicidade de uma criança, melhor ainda uma menina, nascida e criada na Carolina do Sul dos anos 30 de uma forma verdadeiramente comovente.
Aconselho também a versão original face à tradução porque a língua portuguesa não consegue exprimir corretamente certas expressões inglesas, especialmente de época, o que neste livro me parece particularmente relevante.
Os Adultos - Luís Soares
Não prometo que este livro vos marque tanto quanto à versão da minha pessoa aos 16 anos. Quis incluir um livro de um autor português e até há data este foi dos que mais gostei.
Conta uma história transversal a 3 gerações em fases diferentes da vida que se cruzam nas redes sociais.
Gostei muito do livro por ser atual, abordar o tema da busca de identidade e não apresentar os eventos por sequência cronológica o que torna a experiência de leitura mais envolvente.
Lolita - Vladimir Nabokov
Mais um clássico.
Já li há uns anos atrás e na altura o que mais me impressionou, para além da imoralidade inerente e do tom de perversidade que está presente em toda a obra, foi o quão habilmente ilustra a enorme e variada escala de cinzentos que separam o branco do preto nesta tela pintada pelo mestre Nabokov. Quando o esperado seria termos compaixão pela vítima e ódio ou repulsa pelo predador surpreendemo-nos a sentir pena do predador e desprezo pela vítima de uma forma que desafia a lógica.
Numa análise social da obra acho interessante também o facto da cultura popestar muito presente com a sexualização precoce que hoje em dia acontece de forma quase natural em meninas que procuram parecer o mais adultas possível.
Eu quero viver - Nina Lugovskaia
Para os amantes de o Diário de Anne Frank.
Eu quero viver conta na primeira pessoa o horror da realidade de uma adolescente a passar pela mesma guerra a muitos milhares de quilómetros de distância, ou não fosse esta uma Guerra Mundial.
Profundamente tocante, conta uma versão menos heróica da resistência russa ao cerco nazi.
É um período da História que me interessa em particular, motivo pelo qual me despertou a atenção.
Ok, é um clássico.
Ok, provavelmente toda a gente conhece o livro nem que seja de nome.
Contudo se eu apenas o li este Verão talvez haja muita gente em igual situação, motivo pelo qual me atrevo a sugeri-lo. O único livro editado por esta escritora é um must read em qualquer parte do mundo, em qualquer idade. Transporta-nos para uma época completamente diferente em que as desigualdades sociais determinadas pela cor da pele ou género ainda eram uma realidade, mas não de forma fria e distante.
Scout abre-nos o coração e a mente para experienciarmos esse tempo através da inocência e simplicidade de uma criança, melhor ainda uma menina, nascida e criada na Carolina do Sul dos anos 30 de uma forma verdadeiramente comovente.
Aconselho também a versão original face à tradução porque a língua portuguesa não consegue exprimir corretamente certas expressões inglesas, especialmente de época, o que neste livro me parece particularmente relevante.
Os Adultos - Luís Soares
Não prometo que este livro vos marque tanto quanto à versão da minha pessoa aos 16 anos. Quis incluir um livro de um autor português e até há data este foi dos que mais gostei.
Conta uma história transversal a 3 gerações em fases diferentes da vida que se cruzam nas redes sociais.
Gostei muito do livro por ser atual, abordar o tema da busca de identidade e não apresentar os eventos por sequência cronológica o que torna a experiência de leitura mais envolvente.
Lolita - Vladimir Nabokov
Mais um clássico.
Já li há uns anos atrás e na altura o que mais me impressionou, para além da imoralidade inerente e do tom de perversidade que está presente em toda a obra, foi o quão habilmente ilustra a enorme e variada escala de cinzentos que separam o branco do preto nesta tela pintada pelo mestre Nabokov. Quando o esperado seria termos compaixão pela vítima e ódio ou repulsa pelo predador surpreendemo-nos a sentir pena do predador e desprezo pela vítima de uma forma que desafia a lógica.
Numa análise social da obra acho interessante também o facto da cultura popestar muito presente com a sexualização precoce que hoje em dia acontece de forma quase natural em meninas que procuram parecer o mais adultas possível.
Eu quero viver - Nina Lugovskaia
Para os amantes de o Diário de Anne Frank.
Eu quero viver conta na primeira pessoa o horror da realidade de uma adolescente a passar pela mesma guerra a muitos milhares de quilómetros de distância, ou não fosse esta uma Guerra Mundial.
Profundamente tocante, conta uma versão menos heróica da resistência russa ao cerco nazi.
É um período da História que me interessa em particular, motivo pelo qual me despertou a atenção.